Qual foi o contexto desta viagem?
Esta viagem foi realizada no âmbito da geminação do Concelho de Oliveira do Bairro com Lamballe. Há muito que acalentávamos o desejo de conhecer os nossos irmãos escuteiros do Groupe de Notre Dame de Grande Puissance de Lamballe. Foi um sonho que, como Chefe de Agrupamento, fui acarinhando e amadurecendo. Há dois anos estive em Lamballe na comitiva das comemorações dos 15 anos de geminação e tive a sorte de partilhar a casa do chefe de agrupamento de Lamballe que mostrou todo o seu interesse em concretizar esta actividade. A partir daí a ideia foi tomando forma dos dois lados e finalmente, este ano, foi concretizada. No entanto, esta viagem só foi possível porque teve o apoio dos dois comités de geminação, da Câmara Municipal de Oliveira do Bairro e da União de Juntas de freguesias Bustos, Troviscal e Mamarrosa.
Quantos elementos dos escuteiros compunham a comitiva?
Participaram nesta actividade 50 escuteiros do Agrupamento: 11 lobitos, 18 exploradores, 9 pioneiros, 3 caminheiros e 9 dirigentes.
Foi a primeira vez que participaram?
Já temos participado em várias atividades fora do país mas em contexto de secção. Foi a primeira vez em que todas as secções do agrupamento 480 participaram numa actividade internacional. Foi um desafio levar todo o Agrupamento, principalmente os elementos mais novos, mas para nós fazia todo o sentido que esta fosse uma experiência partilhada por todos.
Qual foi o objetivo dos escuteiros do Troviscal ao integrar esta comitiva?
Partimos para esta aventura com objectivos claros: conhecer e criar laços de amizade com os escuteiros de Lamballe, trocar experiências escutistas, partilhar conhecimentos, divulgar a nossa cultura e aprender sobre a cultura local – proporcionar aos nossos jovens momentos de vivência escutista que dificilmente esquecerão.
Fizeram alguma atividade com escuteiros daquela região? Se sim, pode contar como foi a experiência?
A nossa ideia foi sempre a realização de um acampamento de verão com actividades bem organizadas com os objectivos que fomos estabelecendo em conjunto com os escuteiros de Lamballe. Assim, ao fim de um ano de troca de mails com os chefes Rebeca e Philippe, foi criado um mapa de actividades bem diferenciado e de acordo com os objectivos estabelecidos.
De forma resumida tivemos:
1º Dia – Montagens, abertura de campo, jogos de apresentação por secções e breves palavras dos chefes responsáveis pelos contingentes.
2º Dia – Eucaristia celebrada pelo assistente religioso do Agrupamento na qual nos sentimos verdadeiramente integrados e acarinhados. Além do pároco ter o cuidado de rezar algumas partes em português, o que foi uma agradável surpresa para nós, a nossa presença foi explicada à assembleia e pudemos participar com duas músicas portuguesas e uma leitura. No fim foi solicitada a presença do contingente português no altar para cantar uma canção típica escutista. As fotos e as palmas foram a nossa alegria.
A tarde foi passada com jogos tradicionais da Bretanha, uma preparação para a noite de música e danças tradicionais por um grupo de folclore local. Foi espectacular a adesão dos escuteiros portugueses e franceses pois a simpatia e o sorriso dos dançarinos era contagiante.
3º Dia – Este dia dedicado ao raid com a visita ao Monte Saint Michel e ao Cap Fréhel. A caminhada até Monte Saint Michel não foi fácil, uma experiência única. Descalços, debaixo de chuva fria e algum vento forte, caminhámos cerca de 7km. A lama ora mole, ora dura e escorregadia, foi uma constante dificuldade na progressão, onde a capacidade de sacrifício e de vencer dificuldades foi posta à prova. Por vezes foi necessário atravessar pequenos cursos de água que impunham algum respeito e atenção pois os lobitos tinham de ir ao colo ou ás cavalitas dos mais velhos. Depois do lava pés e de um almoço tardio mas merecido fomos visitar o Cap Fréhel.
4º Dia – Dia dedicado à cultura portuguesa, um dia em que todos estávamos um pouco nervosos com a responsabilidade de tudo correr bem.
Começamos a manhã com a tradicional ginástica matinal que não é habitual nos nosso irmãos franceses. Seguiram-se quatro ateliês para a confecção de roupa tradicional portuguesa, rodilhas e um instrumento musical. O final da manhã culminou com uma dança tradicional de roda cedida e ensaiada previamente com elementos do rancho de S. Simão da Mamarrosa. Todos os escuteiros e dirigentes franceses dançaram tendo obtido um desempenho muito interessante, no entanto acharam que a nossa dança era muito rápida e bastante cansativa. O almoço foi uma boa feijoada portuguesa confeccionada pelo chefe Orlando Pinhal que fez lembrar uma iguaria muito apreciada há 50 anos atrás e já esquecida por aquelas paragens. Na parte da tarde foram apresentados e desenvolvidos jogos tradicionais portugueses. A participação foi sempre com equipas mistas de escuteiros portugueses e franceses. O jantar foi constituído por um bacalhau à Gomes de Sá e Aletria, uma vez mais confeccionados pelos dirigentes portugueses. Estiveram presentes várias pessoas do comité de geminação, pais e amigos do agrupamento local e o assistente de agrupamento. Fomos surpreendidos com um fado cantado pela caminheira Catarina Coutinho acompanhada pelos guitarristas Miguel Carriço e Renato Castro que foram aplaudidos de pé, tendo obrigatoriamente bisado. Foi um momento marcante da nossa cultura. A noite foi terminada em fogo de conselho onde, numa partilha fraterna e divertida, foram apresentadas canções, danças, gritos, mimicas e representações que foram participadas e aplaudidas por todos.
5º Dia – neste dia dedicado ao protocolo fomos recebidos pelo vice presidente, da Câmara Municipal (Mairie)de Lamballe, que com palavras e frases simples que fui traduzindo aos meus elementos, elogiou ambos os agrupamentos pela iniciativa, e a nós, em particular, pela coragem de ter elementos tão pequenos presentes, numa partilha de experiencias tão diversificada e única até ao momento. Houve troca de lembranças e votos de um bom regresso a Portugal. A parte da tarde foi uma corrida contra a chuva para desmontar as tendas e arrumar todo o material. Na despedida, uma avaliação por parte dos dirigentes de cada secção e dos responsáveis dos contingentes, a canção do adeus e claro, algumas lágrimas nos olhos dos jovens que conseguiram estabelecer laços de amizade que estamos em crer, vão perdurar. Uma vez mais, o pároco esteve presente, rezando connosco uma oração e dedicando a nossa viagem a Nossa Sra. de Fátima e a Nossa Sra. de Lurdes para que tudo corresse bem.
Trouxe algumas ideias para pôr em prática aqui (algo que se faça lá e que tenha achado interessante)?
A forma de implementar o método escutista é muito semelhante na sua essência havendo apenas algumas diferenças nas práticas. Segundo as avaliações diárias que fomos fazendo, as nossas práticas onde o sistema de patrulhas é a base, já foi um pouco abandonada/esquecida por eles que trabalham mais com o grupo. Pelo que nos foi dado entender fomos reavivar alguns hábitos já esquecidos e alguns protocolos abandonados. No entanto foi muito enriquecedor trabalhar com um agrupamento que foi criado antes da segunda guerra mundial e que nela efectuou algumas ações humanitárias, que tem uma vasta experiência de participação em atividades internacionais e que nos recebeu de forma exemplar tanto o que diz respeito à logística como à organização das actividades.
Que balanço faz desta viagem/experiência?
O balanço foi muito positivo e enriquecedor. Foi uma troca de experiências humanas e culturais fantástica. Houve sempre uma preocupação de proporcionar espaços e oportunidades para todas as secções terem momentos de partilha.
Que importância, na sua opinião, tem este tipo de intercâmbios?
Este tipo de intercâmbios são importantes para podermos constatar como o escutismo é uma verdadeira fraternidade mundial, com ideais comuns, com objectivos bem definidos para a formação dos jovens no sentido de formar cidadão mais ativos e responsáveis socialmente. São momentos de excelência para a prática da cidadania e interculturalidade, valores que pretendemos incutir nos nossos jovens com o nosso trabalho regular.
Outras informações que considere pertinentes.
Quando estes jovens forem mais velhos recordarão orgulhosos as emoções, as partilhas e as opções que tomaram enquanto escuteiros. Foi muito interessante vê-los descobrir outra cultura e cativar novos amigos. Agradeço a todos os meus colegas dirigentes o empenho que colocaram nesta realização relembrando “é o tempo que tu dedicas ao teu jovem escuteiro que o poderá tornar um adulto especial”.
Chefe Henrique Carriço, em entrevista ao Jornal da Bairrada