Lusitanos
Tudo indicava que aquele dia frio, mas solarengo, não iria ser um dia como os outros.
Ainda não tinha amanhecido, mas Viriato já se tinha levantado com o cantar do galo, aberto a porta do curral das cabras e saído para o monte. Pelo caminho cruzara-se com outros jovens da aldeia. Ligava-os a todos uma amizade forjada no rigor e na dureza da vida na montanha em que os dias eram passados a calcorrear, serras, montes e planícies em busca do melhor pasto. Conheciam cada trilho, poça de água, lago, desfiladeiro ou amontoado de rochas que a montanha escondia. Conheciam as aves pelo cantar e pelo seu voo e, esquadrinhando o solo em busca de pegadas, logo sabiam se haviam ou não de redobrar as cautelas perante a proximidade do lobo.
Viriato, não sendo o rei dos lusitanos nem seu descendente, era visto como um líder pelos seus pares e também pelo Conselho de Anciãos da aldeia. Para eles, Viriato era alguém que seria capaz de unir os povos da Lusitânia para enfrentar os desafios que se avizinhavam. O facto de ser pastor, não era entrave às esperanças que nele depositavam, pois também outros grandes líderes de outras civilizações, como David de Israel, o tinham sido. Esse passado conferia-lhe qualidades especiais como líder pela forma como lidava e defendia os seus de quaisquer ameaças. Era um jovem de valor e de valores, honesto, justo e que cumpria sempre a sua palavra.
No centro da aldeia, o Conselho de Anciãos esperava que Viriato e os outros jovens regressassem do pastoreio. Já tinham vivido longos anos e a experiência de vida acumulada ensinara-lhes que era chegado o momento de partilhar os seus conhecimentos, as suas experiências. Sentiam que os anos vindouros seriam exigentes e como tal era importante dotar os jovens da aldeia da educação e formação necessária a torna-los aptos a conduzirem aqueles que lhes seriam confiados no futuro. Mais do que nunca, era importante conhecer, agir, compreender, levar aqueles jovens a desenvolver os seus conhecimentos e atitudes ajudando cada um a acreditar nas suas capacidades para enfrentar os desafios futuros e assim encontrar o rumo certo.
O fim do dia chegou e com ele vieram também os jovens pastores da aldeia. Viriato olhou para eles, o ar solene percorrendo-lhes o rosto e soube logo que a sua hora tinha chegado.
Aquele seria o tempo em que seria debelada a diferença entre o que somos e o que poderemos ser.